Se tem algo de positivo na falta de sono é essa produtividade forçada de pensamento que ela traz. Na medida em que vão acabando as possibilidades de entreter-se com outras programações a gente vai se rendendo a esse exercício, cada vez mais raro em nosso cotidiano, que é afogar-se na errância de nossos pensamentos, revisitando memórias boas, ou nem tanto, reavaliando decisões acertadas e mancadas imperdoáveis, ou simplesmente se perdendo na delícia de nossas abstrações.
Na verdade, esse é um momento precioso para o autoconhecimento mas que eu percebo com tristeza que vem sendo muito desestimulado, quando não realmente rechaçado. “Você pensa muito”, as pessoas me dizem com frequência. Pois é. Eu penso. Muito.
É por pensar muito que percebo, por exemplo, a singeleza de detalhes preciosos em gestos, palavras, atitudes minhas ou de outras pessoas, ainda que tardiamente. E com isso consigo continuar me encantando com o mundo, de vez em quando. Pensando muito também me conscientizo, ainda que tardiamente, do equívoco na insistência de certas atitudes minhas que não me levam a nada além do retrocesso em que eu mesma já me submeto. E assim mudo de postura. Antes tarde do que nunca.
É pensando agora em como foi especial a madrugada de ontem, por exemplo (de novo), que eu percebo que o que separa uma mancada imperdoável de uma atitude certeira é o grau de consciência no qual você se encontra na hora em que toma uma decisão, pra um lado ou pro outro. No meu caso, pequenos prazeres me são tão caros e raros que não passam despercebidos. Uma noite entre bons amigos que me querem bem e que fazem questão da minha companhia, com conversas inteligentes e trilhas sonoras intermináveis, me fazem pensar muito mesmo. Sobre a importância de tomar a decisão certa na hora de dizer “sim, eu vou aí” e aceitar ser amada.
Não é pouco pra mim. É a delícia que uma insônia pensativa pode fazer comigo.